terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Chove. É Dia de Natal


 Chove. É dia de Natal.
 Lá para o Norte é melhor:
 Há a neve que faz mal,
 E o frio que ainda é pior.
 E toda a gente é contente
 Porque é dia de o ficar.
 Chove no Natal presente.
 Antes isso que nevar.
 Pois apesar de ser esse
 O Natal da convenção,
 Quando o corpo me arrefece
 Tenho o frio e Natal não.
 Deixo sentir a quem quadra
 E o Natal a quem o fez,
 Pois se escrevo ainda outra quadra
 Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Poema de Natal: Dia de Natal de António Gedeão

Dia de Natal


Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
 
António Gedeão

Exposição de postais de Natal dos alunos do 12º D

 











domingo, 7 de dezembro de 2014

Boas Festas

A equipa da BE da Escola Secundária de Seia deseja a toda a Comunidade um Santo e Feliz Natal e um Ano de 2015 recheado de doçuras, mas não de travessuras.
 










 
 

Filme do mês de dezembro


Londres, 1910. Um banqueiro, George Banks (David Tomlinson), resolve redigir um anúncio pedindo uma ama, após Michael (Matthew Garber) e Jane (Karen Dotrice), seus filhos, mais uma vez desaparecerem e fazerem com que Katie Nanna (Elsa Lanchester), a ama, pedisse a demissão. Tentando controlar a situação, Winifred (Glynis Johns), a mulher de George, faz tudo para acalmar o marido, mas a sua cabeça está voltada para a defesa dos direitos da mulher. As crianças também escreveram um anúncio, que difere bastante da ama que George pensa contratar, tanto que, depois de lê-lo, o rasga em oito pedaços e deita-o na lareira, por tê-lo achado fantasioso demais. Porém, os pedaços de papel milagrosamente voam juntos até uma nuvem próxima, onde está uma pessoa muito especial: Mary Poppins (Julie Andrews). No dia seguinte chegam muitas candidatas para o cargo de ama, mas um vento misterioso carrega-as antes de serem entrevistadas. Chega, então, Mary Poppins, que desce das nuvens até a casa dos Banks, usando um guarda-chuva mágico como paraquedas. Ela conhece Mr. Banks e concorda em ficar com o trabalho. Michael e Jane ficam fascinados com Mary Poppins, pois ela é exatamente a ama que sempre sonharam.
 
 

Livro do mês de dezembro


John Corey, ex-detetive de Homicídios da Polícia de Nova Iorque e agente especial da Brigada Antiterrorista, está de volta. Infelizmente para Corey, Asad Khalil, o terrorista líbio conhecido como Leão, também.

 Da última vez que Khalil rumou aos Estados Unidos, foi apenas para provocar o ato de terrorismo mais horrendo que alguma vez ocorreu em solo americano. Enquanto Corey e a sua parceira, a agente Kate Mayfield, o perseguiam pelo país, Khalil eliminou metodicamente as suas vítimas, uma por uma, e a seguir desapareceu sem deixar rasto.

 O Leão é uma máquina assassina novamente à solta, em missão de vingança, e John Corey não vai conseguir pará-lo a menos que consiga encontrar e matar Khalil.

 

Nelson Richard DeMille (23/08/1943) nasceu em Nova Iorque, e cresceu em Long Island, onde
atualmente vive com a mulher e dois filhos. Estudou três anos na Hofstra University, alistando-se depois no exército americano, onde chegou a primeiro-tenente, tendo sido condecorado com a Air Medal, Bronze Star, e the Vietnamese Cross of Gallantry. Regressou à Universidade de Hofstra, nos Estados Unidos, obtendo o diploma em ciência política e história e o doutoramento em Letras Humanas. Doutorou-se igualmente em Literatura na Long Island University. Escreve short stories, críticas literárias e artigos para revistas e jornais. Tem publicados 12 livros, sendo O Crepúsculo Fatal, o primeiro a ser editado em Portugal.

Poema do mês de dezembro


Guerra


Tanto é o sangue

 que os rios desistem de seu ritmo,

 e o oceano delira

 e rejeita as espumas vermelhas.

 
 Tanto é o sangue

 que até a lua se levanta horrível,

 e erra nos lugares serenos,

 sonâmbula de auréolas rubras,

 com o fogo do inferno em suas madeixas.


 Tanta é a morte

 que nem os rostos se conhecem, lado a lado,

 e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso.

 
 Oh, os dedos com alianças perdidos na lama...

 Os olhos que já não pestanejam com a poeira...

 As bocas de recados perdidos...

 O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes...

 

 Tanta é a morte

 que só as almas formariam colunas,

 as almas desprendidas... — e alcançariam as estrelas.

 
 E as máquinas de entranhas abertas,

 e os cadáveres ainda armados,

 e a terra com suas flores ardendo,

 e os rios espavoridos como tigres, com suas máculas,

 e este mar desvairado de incêndios e náufragos,

 e a lua alucinada de seu testemunho,

 e nós e vós, imunes,

 chorando, apenas, sobre fotografias,

— tudo é um natural armar e desarmar de andaimes

 entre tempos vagarosos,

 sonhando arquiteturas.

 

Cecília Meireles, in 'Mar Absoluto'

Feira do Livro